quinta-feira, 21 de abril de 2011

O cego na faixa de pedestres

No Rio de Janeiro, os motoristas têm o estranho hábito de parar seus veículos após o sinal, fechando o cruzamento. Ninguém pode esperar atrás da faixa de pedestres pela liberação do tráfego à frente. Assim, quando o farol fica verde na transversal, os carros do outro lado não podem se mover. Na prática, todo o mundo anda quando o semáforo da sua via está vermelho, pois, enquanto ele estava verde, o cruzamento estava bloqueado pelos automóveis que vinham na perpendicular.

Nunca consegui entender essa atitude mesquinha dos condutores cariocas. Além de atrapalhar o trânsito, prejudica os caminhantes, que ficam sem faixa de pedestres para atravessar. Ontem, uma dessas cenas de caos urbano me deixou aterrorizado e me fez perceber como esta prática contraventória pode ser perigosa. Um cego tentava cruzar a Avenida Heitor Beltrão, na Tijuca (para quem não conhece, uma via com três ou quatro faixas de rolamento, dependendo do trecho). No meio da pista, deparou-se com um ônibus atravessado sobre a faixa. Parou, pensou e resolveu dar a volta pela frente do coletivo, escolhendo o mais longo e mais perigoso percurso. Certamente imaginou que a condução estava só um pouco avançada, já que o sinal estava fechado para os veículos. No entanto, o ônibus, além de ocupar a faixa, bloqueava parte do cruzamento adiante.

Os riscos eram grandes: 1) o lotação poderia se mover sem que o condutor percebesse o lusco homem tateando a viatura; 2) conseguindo passar o coletivo, o cego poderia ser atropelado por um utilitário em movimento na faixa da direita (como vimos acima, independente de o semáforo estar aberto ou fechado); e 3) como o deficiente visual passaria por fora da faixa, à frente do ônibus, pelo cruzamento, poderia ser atropelado pelos carros que viessem pela transversal.

Felizmente, um rapaz veio correndo em seu socorro e o ajudou a atravessar as duas ruas por entre os veículos que, dos dois lados, aboletavam-se sobre as listras brancas que deveriam ser o território e a segurança dos transeuntes.