quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Mudo encanto

Queria te ver.
Só te ver. Sem precisar falar,
sem precisar ouvir.
Te ver só, sem nem precisar sorrir.
Só nós dois.
Tecendo silêncios pra nos vestir
com as vestes dos sonhos
de conjugar verbos tão prenhes
pra nos libertar,
pra nos redimir,
pra nos enlaçar,
pra nos envolver,
até nosso silêncio emudecer.

[12.07.2013]

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ascenção e queda de Eike Batista

Começo a ter pena do Eike Batista. Há um tempo atrás, quando o empresário abria uma empresa atrás da outra com sonhos de magnata, era tratado como visionário, audacioso, um exemplo do empresário moderno de que o Brasil precisava. Todos acreditavam em Eike Batista (ainda que sua holding só tivesse promessas). A mídia o incensava. Os governantes eram seus amigos. Agora, que seus projetos começam a fazer água, todos querem vê-lo pelas costas. A CVM o investiga, seus colaboradores e consultores estrelados o abandonam, o governo avisa que não vai salvá-lo.

Imagino que muita gente que embarcou na euforia das companhias "X", comprando ações que não paravam de se valorizar, deve ter ficado desesperada quando os papéis despencaram na Bolsa de Valores de São Paulo. Os negócios de Eike agora são um abacaxi difícil de descascar. Fundos abutres estão de olho. Empresas estrangeiras podem recolher seus restos. Um banqueiro acostumado ao jogo duro da restruturação de empresas à caminho da falência apareceu no caminho.

O empresário de sucesso, que teve seu nome na lista da revista Forbes de homens mais ricos do mundo, agora é tratado como personagem de carnavais passados: é o ex-marido da modelo Luma de Oliveira. Comprova mais uma vez que a subida é bela e amplamente compartilhada, enquanto a descida é triste e solitária.

Não é exatamente pena do Eike Batista e seu Lamborghini na sala de casa que sinto. O homem viveu como um Nababo a partir dos lucros que suas empresas nunca tiveram. É uma coisa, aliás, que não consigo entender no capitalismo: alguém constrói um conglomerado que não produz nada e fica rico. O que me faz sentir um pouquinho de sei lá o quê (compaixão, apenas na falta de palavra melhor) é essa mudança cruel de posição da mídia e do governo. A mídia, compreende-se, faz estupidamente o jogo de alguns espertalhões do mercado. Aqueles que, provavelmente, ganharam muito com a valorização das ações do grupo "X" e ganharão também agora, com sua catastrófica desvalorização. O papel do governo, por outro lado, é incompreensível. Quanto aos tubarões do mercado, estes sabem o que fazem. Daqui a um tempo, incentivarão outra promessa furada para ganhar com a oscilação da Bolsa. O pequeno investidor, o governo e o país que se danem.

***

P.s.: Quem me conhece sabe que eu cantava essa pedra há anos: um dia, o castelo de cartas do Eike Batista ia desmoronar. Pois agora aviso que algumas empresas vão se recuperar, ao menos por algum tempo. Sabendo quais empresas vingarão, esta é uma boa época para se investir em ações do grupo. Elas chegaram ao fundo do poço e a tendência é que algumas se recuperem, sob o controle de outras pessoas. Certamente, a valorização será menos eufórica, porém.

sábado, 23 de março de 2013

Autopsicofagia

O poeta é um usurpador.
Rouba tão solertemente,
que chega a fingir sua dor
a dor de outro vivente.

[??.0?.2013]

quinta-feira, 21 de março de 2013

Aos Nossos Filhos

As relações parentais sempre podem ser complicadas. Na peça de teatro "Aos Nossos Filhos", falta de compreensão de parte a parte mistura-se com carinho mútuo. Mãe e filha são, ao mesmo tempo, revolucionárias e conservadoras. Cada uma, em um aspecto da vida. Cada uma, nas maneiras de enxergar o mundo. Brigam, mas se amam. A mãe é a atriz portuguesa Maria de Medeiros, em excepcional atuação. A filha é a brasileira Laura Castro, também autora do texto que o diretor João das Neves leva ao palco do teatro de arena da Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, depois de ter passado pelo Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília.

A tônica do drama é, de certa forma, traduzida na canção homônima de Ivan Lins e Vitor Martins. Ao longo de toda a trama, as atrizes entoam, com afinação perfeita e sensibilidade, trechos da música, que também é executada ao piano por Filipe Bernardo, em solo ou acompanhando as personagens. Não é à toa. A letra de Vitor Martins faz referência à dificuldade de pais que sofriam a ditadura de ter uma relação mais próxima com seus filhos, crianças acostumadas a tristezas, sumiços e exílios. O mesmo drama vitimou as personagens desta peça.

O palco é pequeno e há poucos objetos de cena, mas o cenário construído de rolhas e outros objetos de cortiça por Rodrigo Cohen é de grande beleza plástica. O espetáculo fica em cartaz até 31 de março, de quarta a domingo. A Caixa Cultural fica na Avenida Almirante Barroso, 25, Centro. Ingressos a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia).

P.s.: Antes da peça, vale a pena visitar a tocante instalação "Lágrimas de São Pedro", de Vinicius S.A., na mesma Caixa Cultural.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Lula e sua conversa mole

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma conferência em Paris, disse: “Quando político é denunciado, a cara dele sai noite e dia nos jornais. Vocês já viram banqueiros nos jornais? São eles que pagam as publicidades da mídia.” Lula não deve ler jornais. Fiquemos apenas em alguns exemplos pátrios: Edemar Cid Ferreira (Banco Santos), Daniel Dantas (Banco Opportunity), Salvatore Cacciola (Banco Marka), Assis Paim Cunha (Grupo Coroa-Brastel), Ronald Guimarães Levinshon (Grupo Delfin)... todos apareceram intensamente na mídia por causa de seus problemas com a Justiça.

O ex-presidente petista é mestre na arte do diversionismo. Gosta de contar historinhas para desviar a atenção e se fazer de vítima. Além de usar um argumento sem fundo de verdade, Lula se esquece de que banqueiro não é eleito: se fizer bobagem, deve satisfações a seus clientes e à Justiça, não necessariamente a todos os brasileiros. O político é um representante do povo e deve satisfações a ele. O que o político faz no exercício de seu mandato é muito sério. Se há uma denúncia, o povo merece saber. É por isso que a cara dele sai noite e dia nos jornais. E não deveria ser de outro jeito.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Liberdade de pensar como a gente

A verdade é que, se a maioria segue a nossa opinião e esta não coincide com a da "grande mídia", dizemos que "o povo não é bobo". Se nossa opinião coincide com a da "grande mídia" e a maioria vai contra, dizemos que "o povo é burro e desinformado". Se a opinião da maioria coincide com a da "grande mídia", mas não com a nossa, dizemos que "o povo foi manipulado pela mídia". Em todos os casos, não importa o que a mídia e o povo pensam, eles só estarão certos se concordarem conosco.