sábado, 28 de abril de 2012

De repente

De repente era tudo muito simples,
como, aliás, sempre foi
e nós não queríamos ver.
De repente do papel saiu a rima
e da grama saltou o canto,
o profano tornou-se santo,
e éramos só nós dois
e éramos tantos.
De repente da vida fez-se o encanto
e o riso leve calou o pranto
e a sua última lágrima tornou-se vento.
De repente do seu beijo fez-se o momento,
do seu abraço fez-se o alento
e o seu olhar foi meu recanto.
De repente da areia fina fez-se o segundo,
do seu corpo fez-se o meu mundo
e da palavra fez sentimento.
De repente o verso foi mais profundo,
da rocha fez-se acalanto
e da dor fez-se o rebento.
De repente fez-se o encontro,
e éramos todas as frases,
e éramos um só ponto.

[13.07.1994]