quinta-feira, 19 de maio de 2011

A lei na calcinha

No último dia 10 de maio, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei (PL) que obriga a inserção de etiquetas nas roupas íntimas para adultos – sutiãs, calcinhas e cuecas – alertando para a importância do exame preventivo de câncer de mama, de colo de útero e de próstata, respectivamente.

A proposta foi apresentada pelo ex-deputado Barbosa Neto (PMDB-GO) em 1999. Seis anos depois, foi encaminhada ao Senado Federal, que, após quase três anos de deliberação, devolveu à Câmara com alterações. Até aqui, foram 12 anos, dois meses e oito dias de tramitação. Eu me divirto quando vejo a peregrinação de uma lei no Congresso Nacional. Quem tiver curiosidade de verificar o percurso desta aqui, pode acessar http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=15227. É preciso ir ao site do Senado para ver o que ocorreu no período em que o PL esteve por lá. Minha paciência não vai tão longe assim.

Mas não escrevi este post para falar sobre a morosidade do Congresso Nacional. O objetivo era comentar a irrelevância de algumas leis. Não há nada mais importante para os nossos legisladores fazerem do que discutir bobagens como esta? Em 12 anos (e sabe-se lá quanto tempo isso ainda levará), é bem possível que se conseguisse convencer os fabricantes de roupas íntimas a abraçarem tão nobre causa, sem que fosse necessária a coerção da lei.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Osama, Obama e o discurso do triunfo

ou "Everybody is filhos de God"

Não estou triste com a morte de Osama Bin Laden. Mas também não compartilho do discurso hip-hip-hurra que muita gente tem adotado. Matar alguém não é lá algo digno de comemoração. O que deveria nos fazer civilizados, em oposição a bárbaros terroristas e assassinos em geral, é justamente não compartilhar de seus métodos. Pode o homem sentir-se, quiçá, aliviado com o fim de seu algoz. Mas feliz por ter matado uma pessoa?

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O discurso que Barack Obama fez na noite de domingo (horário de Washington) termina em um tom entre o triunfalista e o messiânico. Primeiro ele disse que os Estados Unidos podem fazer o que lhes der na telha – "we are once again reminded that America can do whatever we set our mind to". Em seguida, falou nos sacrifícios feitos pelo povo estadunidense para que o mundo seja um lugar mais seguro – "That is the story of our history, (...) our sacrifices to make the world a safer place."

É justamente este tom arrogante que faz com que muitos se voltem contra a nação mais poderosa do mundo. Condição, aliás, que o presidente Obama fez questão de lembrar – disfarçadamente, mas de modo não muito sutil: "Let us remember that we can do these things not just because of wealth or power, but because of who we are: one nation, under God, indivisible, with liberty and justice for all."

Para encerrar, a típica inspiração puritana que fecha muitos discursos de presidentes ianques – "May God bless you. And may God bless the United States of America." – poderia ser facilmente substituída, do outro lado do mundo, por "May Allah bless the Islam". Ao fim e ao cabo, estão todos querendo provar que são melhores que os outros. Ou mais predestinados.

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Sim, a campanha para a reeleição já começou.

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"O mundo caquinho de vidro
Tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata, o homem que mente"

(O Mundo - André Abujamra / Karnak)