domingo, 25 de julho de 2010

Filhos sem irmãos

A Istoé da última semana (data de capa 21 de julho de 2010) diz, na reportagem de capa, que é cada vez mais comum as famílias brasileiras terem um único filho. Segundo a revista, especialistas garantem que as crianças que crescem sem irmãos "podem se tornar adultos tão ou mais saudáveis do que aquelas que crescem em grandes famílias."

Não discuto este aspecto. Pais podem educar bem ou mal um ou cinco filhos; depende pouco do tamanho da prole. Mas estranho as justificativas. De um lado, criar filho é caro; de outro, há pouco tempo para se dedicar a ele(s).

É tudo verdade e, ao mesmo tempo, não é. Em geral, são os mais endinheirados que optam pelo filho único. E também são eles que têm condições de contratar babás. Na verdade, o que mudou nas últimas décadas foram as prioridades e os desejos. Há trinta ou quarenta anos, muitas mães já trabalhavam fora e a contratação de babás não era tão comum. Não obstante, tinham mais filhos. Porque desejavam tê-los e porque os encaravam como prioridades.

Hoje, as prioridades me parecem mais próximas do consumo do que do afeto. Não há nada de errado nisso; temos que entender que a sociedade muda. Viajar para o exterior, possuir um televisor de 42" e morar no Leblon pode ser mais interessante do que ter dois filhos. E é evidente que, quanto mais filhos tivermos, menos dinheiro e tempo teremos para gastar conosco.

Ter um filho só é, portanto, uma opção lícita e justa. Só não é justo com os nossos pais dizer que esta escolha deve-se à falta de tempo ou de recursos.

***

Os filhos únicos da minha geração, coitados, terão que lidar sozinhos com a nossa velhice.

***

Ter irmãos é muito bom. Ter primos, também. Os filhos únicos da minha geração não têm irmãos. Nossos netos, por conseguinte, não terão primos.

(Escrito em 21 de julho de 2010)

9 comentários:

  1. Tania de Vasconcellos28/07/2010, 06:56

    Salve, salve Edu! Adorei o fato de vc ter criado um blog e espero que vc se dê a ler com mais frequência. Só não entendi a foto do sapo... É pra beijar?? rsrsrs

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  2. Outro dia me contaram o caso de um pai que foi chamado na escola. A professora disse, toda alegre, que o filho dele - filho único - tinha muita vocação para música, e que isso deveria ser estimulado. O cara ficou com raiva da professora e disse que estava criando o moleque para ser presidente do Banco Central. Deve ser por isso que ele só teve um filho. Fica caro criar um presidente do BC, outro ministro da Fazenda, um terceiro executivo do Santander, né?
    Parabéns, gostei do início do blog.

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  3. Edu José

    Muito boa essa sua iniciativa. Parabéns. Com ela, poderemos apreciar as suas criações sem a obrigação de nos inscrevermos em sites de relacionamentos ou coisas do gênero.

    Nesse caso, o que acha de trazer para o "seu umbigo" aquilo que você escreveu alhures?

    Abraço,
    Ari

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  4. Eduardo,
    Essa pauta é velha. Relaxa. Irmãos e primos não estão em extinção. Pelo contrário, essa tentativa de esterilização cerebral em massa que toda hora aparece na mídia esquece que hoje cada um pode criar a família que bem quiser. O filho da namorada do pai é irmão, o irmão da irmã por parte de pai também. E a filha da amiga da mãe pode virar prima.
    Tudo continua dependendo da generosidade com que essas crianças são criadas e, pra isso, ainda existem mães e pais que enchem o carro de crianças, levam todas pra passear e torcem pra dar certo.

    Ah! Continuo querendo casar e ter mais dois filhos. Pode divulgar. Pior do que ter um filho único em casa, é ter dois filhos únicos.

    Beijos!
    Adorei!
    Renata

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  5. bem-vindo à blogosfera, Edu!
    concordo com Ari e registro mais um voto em prol da campanha "traga seu umbigo todo pra cá".
    beijos da sua seguidora. aqui e em outros mares.
    Ju.

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  6. Tânia, acertou em cheio.

    André, coitado do moleque!

    Ari e Ju, cliquem na foto do umbigo e um mundo novo se abrirá! :-)

    Renata, a pauta não é velha, é fria. A redução das famílias é um dado estatístico, observável pela involução das taxas de natalidade. É um processo que existe há décadas. O número de nascimentos por mulher era de 1,8 em 2008 e de 2,3 em 2000. Natural que a imprensa esteja explorando o assunto já há algum tempo (e continuará a fazê-lo, até passar a falar apenas nas famílias que optam por não ter filho nenhum). Não pretendo fazer jornalismo no blog, mas discutir temas. Que podem ser tão velhos quanto, por exemplo, estruturas familiares "não-convencionais", como as que você citou, tão comuns em sociedades primitivas.

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  7. Du, adorei teu blog.

    Bom, como mãe de filha única (nem tanto por minha opção) eu me preocupo exatamente com a solidão dela e a barra que ela vai encarar na velhice dos pais. Mas quem sabe quais são os melhores caminhos?

    Escreva sempre!

    beijos

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  8. Ai, Eduardo!! Desculpa.Prometo só sair do meu universo primitivo em caso de extrema necessidade. Por exemplo: se você esquecer que existem outras perspectivas, outros olhares e,consequentemente, outras opiniões no mundo. Ou se você começar a usar estatísticas gerais sem considerar que elas são o resultado de comportamentos nem sempre homogêneos nos diversos grupos pesquisados.

    PS. Sou sua prima. Não desisto nunca. Beijos

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  9. Edu,
    este é o segundo artigo que leio seu e, é claro, adorei! Até pq com um filho de um ano e ainda sem saber se vou ter o segundo, gostei da reflexão do seu texto. Concordo com vc. Esta pauta NUNCA será velha, porque nós, mães sempre estaremos pensando nesse assunto, enquanto estivermos em idade fértil e mesmo depois. Ultimamente venho pensando muito na questão da família, do sentimento de irmãos, primos etc. O sentimento, pelo que conversei com várias pessoas, não é o mesmo. O sentimento de mãe, de pai e de irmão é único. Posso considerar um amigo como um irmão, mas o sentimento é diferente. Então ter um irmão conta muito sim. Por isso, estou dividida entre ter ou não ter mais um filho. E tb pq sou filha única e sei o que isso representa, pp agora que meus pais estão idosos. Nos falamos, amigo. Bj, Dani

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