sábado, 11 de setembro de 2010

As “celebridades” na política

Ainda sobre o tema do último post, leio que o jogador de futebol Romário (PSB-RJ) deve garantir votos para eleger, além dele, mais dois candidatos. Eu já havia comentado que esta é justamente a razão para os partidos políticos darem guarida a certas “celebridades”. É uma distorção? Sim, mas a culpa é mais nossa, dos eleitores, que dos candidatos e partidos. Antes Romário puxando dois candidatos do PSB que o falecido Enéas Carneiro puxando oito do Prona.

Pedro Sangirardi comentou aqui no Meu Umbigo que “a avacalhação eleitoral reforça o efeito de carnavalização” e que “a galhofa favorece e potencializa o descrédito”. Mas não creio que haja, por parte dos partidos e dos candidatos, galhofa ou intenção de avacalhar. Agem, os primeiros, de acordo com o processo eleitoral brasileiro e com a falta de discernimento dos eleitores. Já os candidatos têm motivos vários, que vão da ingenuidade à esperteza, da verdadeira vontade de servir ao país ao dissimulado desejo de servir a seus próprios interesses.

O problema não está nas pessoas famosas, que têm o direito de candidatar-se, nem nos partidos políticos, que têm o direito de tentar eleger o maior número de correligionários possível. O problema está no processo político; no próprio pleito. Se fosse claro para o eleitor que, ao votar em um candidato, pode estar elegendo outro, talvez ele escolhesse melhor seu representante. Se a votação para cargos proporcionais fosse feita em partidos e não em pessoas físicas, talvez houvesse mais clareza e respeito aos projetos políticos: em vez de votar em uma pessoa que ele mal conhece, o eleitor teria que se deparar com as propostas partidárias para o país.

Por fim, há a dificuldade de o eleitor escolher criteriosamente tantos representantes. Você sabe quantas vezes terá que digitar um número na urna eletrônica no dia 3 de outubro? Seis vezes: para presidente, governador, senador (duas vezes), deputado federal e deputado estadual. É muito. A tendência é que a votação para o Poder Executivo seja privilegiada, em detrimento da escolha de representantes para o Legislativo.

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“Marina. O discurso moralista (sic) pesa mais que a pregação ambiental.” A frase é do jornalista Mauricio Dias na revista Carta Capital de 8 de setembro. Preocupação ética virou mero moralismo agora. Nisto resultou a reação complacente de Lula e correligionários com os protagonistas do “Mensalão”. De lá pra cá, todos os desvios éticos cometidos por políticos (principalmente aliados do PT) viraram meros deslizes, pecadilhos sem importância ou mesmo necessários para o grande fim de se construir um Brasil melhor e mais justo, como nunca antes na história do país. Isto sim é avacalhação.

Um comentário:

  1. Análise lúcida. A personalização de fato tem prevalecido em detrimento das plataformas partidárias. Os partidos têm focos de posicionamento ideológico e de defesa de algumas propostas, que enfrentam, internamente, disputa com as alas mais promíscuas e normalmente (e infelizmente) mais dotadas de eficácia tática. A identidade partidária então fica difícil, pela fragmentação interna, e pela movimentação dos setores mais envolvidos com ação do cotidiano político, quase sempre em sentido contrário ao interesse público.
    Quanto às celebridades, você tem toda a razão, e meu ponto é apenas o seguinte: como deve existir um código regulamentador da propaganda eleitoral que impede que uma candidata coloque os seios na televisão (isso daria voto, o corpo feminino é uma força política no Brasil!), ou que um candidato apareça fantasiado de crocodilo, também deveria impor limites ao decoro em relação aos discursos. O Tiririca, que creio ter suscitado esse nosso papo, diz na propaganda que "não sabe o que faz um deputado, mas que se entrar conta pra gente". Isso fere o espírito público. Se o famoso quer entrar na Câmara, é um direito legítimo, mas não deve interpretar seu personagem na campanha, eviitanndo confundir ainda mais um eleitor já desorientado, sobretudo o mais desinformado. Uma medida de contenção do já alargado e esmerdalhado imaginário político popular, quando precisamos de lucidez e conscientização para lutar por uma prática política de maior qualidade.

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